Texto originalmente publicado no blog Sidadania II e depois no
Sol Poente, ambos de Portugal.
Obs: O texto em branco é de autoria de ManDrag y Thén e relata o que lhe aconteceu ao tentar doar sangue, em um Hospital de Lisboa, em Portugal. O texto em laranja é de autoria de R. Rudoisxis, do blog Sidadania II, linkado acima.
"Durante alguns anos fui dador de sangue. O posto onde rotineiramente me apresentava para entrega da minha dádiva era o Serviço de Sangue do Hospital Curry Cabral em Lisboa. Aí era sempre recebido com uma afabilidade própria de quem já se tornara parte de uma grande família, cujo primeiro e único móbil era a prestação de auxílio a quem dum bem tão fundamental necessitava.Nesse serviço a minha homossexualidade era conhecida dos vários clínicos que me atendiam na consulta de prévia de rastreio. Nunca tal circunstância era obstáculo à minha entrega periódica do meio litro de meu Rh O negativo; que segundo fiquei a saber era raríssimo e muito necessário. Era com alegria que trimestralmente me apresentava no referido serviço para a respectiva recolha do meu fluido vital, de que tantos careciam.Mas não há bela sem senão. Certo dia foi para esse Serviço de Sangue uma médica jovem (diria menos de 30 anos, pelo que a chamavam de Drª Mariazinha) recém formada, que me calhou na consulta de rastreio. Ao saber da minha homossexualidade ela liminarmente recusou a minha dádiva, afirmando: “Vocês homossexuais, apenas vêm dar sangue para terem análises grátis de despiste do VIH! Recuso-me a aceitar sangue dum homossexual.”Minha estupefacção perante tão vil insulto e tamanha insensibilidade, deixou-me completamente mudo e incrédulo. Saí do consultório e ao ser interrogado na recepção porque me estava indo sem dar sangue apenas pude responder à auxiliar administrativa de serviço que a minha dádiva fora rejeitada por ser homossexual. Depressa abandonei as instalações pois a revolta pelo ultraje apenas me dava vontade de chorar.Já cá fora, ao atravessar o jardim rumo ao portão de saída do hospital, ouvi gritar o meu nome. Era a directora do Serviço de Sangue quem me chamava, correndo em minha direcção. Pediu-me perdão pelo sucedido e para voltar com ela ao Serviço de sangue. Aí ela mesma me atendeu e autorizou a minha doação, tendo ainda me rogado insistentemente que não deixasse de dar sangue e que sempre que me apresentasse na recepção informasse a assistente de serviço que não queria ser atendido pela Drª Mariazinha, pois outro médico me atenderia sem problemas.E por vezes pensamos nós que os jovens têm uma mentalidade mais aberta e sem preconceitos. Pura ilusão.Este caso singular naquela instituição foi uma nódoa que poderia ter manchado a reputação modelar da mesma. Chamo de modelar as normas pela qual se regia (só me refiro ao tempo em que lá recorria para doar sangue, mas espero e acredito, que ainda assim continue) o Serviço de Sangue do Hospital Curry Cabral, uma vez que noutras unidades de saúde hospitalares sempre presenciei uma homofobia doentia e encarniçada para com os pretendentes dadores homossexuais. E passo a citar alguns onde tive de omitir a minha homossexualidade para poder prestar o meu auxílio ao próximo, pois logo à entrada me era distribuído um folheto onde grosseiramente se lia que a dádiva estava interdita a homossexuais: Hospital Nossa Senhora do Rosário (Barreiro), Hospital Garcia de Horta (Almada), Hospital de São Francisco Xavier (Lisboa). Estes os casos que testemunhei pessoalmente, mas acredito que muitos mais haverá ainda por esse país fora. Aí eu tive de mentir por omissão, para que fosse a minha dádiva aceite.Lamentável! ManDrag yThén
A descriminação no que diz respeito a quem de um modo altruista dá sangue para salvar vidas continua a existir.Ter uma preferência sexual diferente, ou um parente infectado pelo HIV parecem ser motivos impeditivos, para que um cidadão possa exercer esse nobre acto.É importante denunciarmos atroplelos por parte do pessoal de saúde que trabalha na recolha de sangue, para que este estado de coisas acabe de uma vez por todas.Claro que é importante termos um sangue de qualidade sem agentes patogénicos passiveis de provocarem danos às pessoas que recebem esse bem essencial à continuidade de suas vidas, mas para isso basta um controle e testes a cada unidade de sangue doada.Este testemunho do Mandrag é importante e todos os outros testemunhos que os nossos leitores nos possam trazer para que os possamos publicar.Em Janeiro publicámos um texto sobre estes atropelos, que o convidamos a ler clicando em : Sangue Dádiva de Amor
É importante acarinharmos aqueles que num gesto de amor se dispõem a dar sangue. É importante termos nos serviços de sangue profissionais dedicados que dêm importância à necessidade que temos deste fluido que pode fazer a diferença entre a vida e a morte.Aqueles que nesses serviços pensam que estão a fazer um favor aos dadores por lhes retirarem o sangue, e dando-lhes previlégios de análises gratuitas, certamente não serão as pessoas indicadas para lá estarem.Só denunciando casos como este e dando-os a conhecer, poderemos mudar o actual estado de coisas. Não nos podemos calar pois issso será pactuar com injustiças que não têm razão de ser.
Publicada por R. Rudoisxis"
A descriminação no que diz respeito a quem de um modo altruista dá sangue para salvar vidas continua a existir.Ter uma preferência sexual diferente, ou um parente infectado pelo HIV parecem ser motivos impeditivos, para que um cidadão possa exercer esse nobre acto.É importante denunciarmos atroplelos por parte do pessoal de saúde que trabalha na recolha de sangue, para que este estado de coisas acabe de uma vez por todas.Claro que é importante termos um sangue de qualidade sem agentes patogénicos passiveis de provocarem danos às pessoas que recebem esse bem essencial à continuidade de suas vidas, mas para isso basta um controle e testes a cada unidade de sangue doada.Este testemunho do Mandrag é importante e todos os outros testemunhos que os nossos leitores nos possam trazer para que os possamos publicar.Em Janeiro publicámos um texto sobre estes atropelos, que o convidamos a ler clicando em : Sangue Dádiva de Amor
É importante acarinharmos aqueles que num gesto de amor se dispõem a dar sangue. É importante termos nos serviços de sangue profissionais dedicados que dêm importância à necessidade que temos deste fluido que pode fazer a diferença entre a vida e a morte.Aqueles que nesses serviços pensam que estão a fazer um favor aos dadores por lhes retirarem o sangue, e dando-lhes previlégios de análises gratuitas, certamente não serão as pessoas indicadas para lá estarem.Só denunciando casos como este e dando-os a conhecer, poderemos mudar o actual estado de coisas. Não nos podemos calar pois issso será pactuar com injustiças que não têm razão de ser.
Publicada por R. Rudoisxis"
Um beijo Raul.
9 comentários:
Como dadora de sangué há 30 anos deixo aqui o mesmo comentário que deixei no SidadaniaII:
Obrigado pela publicação desta "denúncia" feita por Mandrag que me fez revirar as tripas com tal estupidez por parte dessa médica.
Acho que Mandrag deveria ter feito a denúncia junto do Instituto Nacional de Sangue que faz a coordenação das recolhas de sangue feita nos vários hospitais.
Como dadora, havia de estar presente que outro galo cantaria, oh se cantaria.
Não quero induzir em erro, mas no folheto que temos assinalar - não sei se igual em todos os postos de recolha - não me lembro de das 25 constar alguma sobre a homossexualidade, mas apenas de uma:
- nos últimos seis meses teve relações sexuais com vários parceiros?
o que se poderá aplicar até aos heterossexuais.
Onde sempre dei jamais presenciei ou tive conhecimento de uma postura dessas, e há dois velhos amigos que sempre deram sem qualquer problema ou estigma, mesmo com as últimas equipes de "gente jovem". Na última um deles não pôde dar porque estava semi-constipado.
Nunca é demais DENUNCIAR!
Beijos
Também deixo, logo abaixo, meu comentário, que deixei no blogue o-sol-poente:
Peloamordedeus!
Isso, além de PRECONCEITO, é de uma burrice imensa.
Pensava que até uma porta soubesse que, em pleno século 21, a AIDS não escolhe rostos, opções sexuais, idade, religião.
Esta Dr. deveria estar presa, deveria mofar na cadeia.
Absurdo!
Absurdo!!!
Mas, de qualquer maneira, parabéns pelo seu nobre gesto de doar o SEU sangue (coisa que a tal Mariazinha provavelmente não faz).
E parabéns também peo texto corajoso.
Precisamos colocar a boca no trombone sempre que isso acontecer, porque sabemos bem: quem cala, acaba consentindo.
Grande abraço
:)
Passei e deixo saudações amigas
Querida amiga Odele,
Já tinha lido este post, e condenado como é óbvio a atitude desta jovem médica.
Independentemente da cor, raça, religião ou orientação sexual, cada Ser Humano tem direitos iguais e não deve ser marginalizado por isso.
Beijinhos querida amiga, para si e Flavinha.
Ana Martins
yo soy donante de sangre y realmente me has dejado perpleja con esta historia, y mas aun que en el siglo en que vivimos y por encima con un medico joven haya ocurrido esta situacion, si no fuera por la seriedad de tu blog diria que es un bulo, realmente esta dotora se merece que le pongan una demanda etica y le retieren el titulo de medico
por que por lo visto se perdio la clase mas importante la de ser humano
saluditos
Obrigado por ter divulgado aqui este post.
Acho de extrema importância denunciar atropelos e aberrações como a que aqui está descrita bem como outra que está no texto laranja no link ao post Sangue Dádiva de Amor.
As preferencias sexuais a raça, condição social ou crenças religiosas bem como outros factores que possam levar ao estigma, não podem de maneira nenhuma interferir na colheita de um liquido essencial à vida de tantos que dele precisam.
É uma questão de vida ou de morte e nós somos pela vida.
Não obstante defendemos que todo o conhecimento cientifico e todos os testes devem ser feitos para garantir a qualidade do sangue que deve ser isento de qualquer elemento patológico nefasto ao receptor a quem se destina.
Os nomes de hospitais e outros centros de colheitas onde haja este ou outro tipo de descriminação devem ser conhecidos para que as autoridades fiscalizadoras actuem.
Bem haja por divulgar este assunto entre os seus leitores.
Beijo amigo
É COM GRANDE ORGULHO QUE COMENTAREI NESSA EXCELENTE POSTAGEM QUE DEMONSTRA UM ATO TÃO NOBRE!!!!!!!
O TEXTO CAUSA UMA REVOLTA, UMA INDIGNAÇÃO E CORTA O CORAÇÃO DE QUALQUER UM . AINDA MAIS, POR QUE ME RELACIONO COM A ÁREA DE SAÚDE E CONHEÇO PÉSSIMOS PROFISSIONAIS QUE INVÉS DE CUIDAREM DO PRÓXIMO EXERCENDO A SUA PRPFISSÃO, MALTRATAM OS QUE ELES CLASSICAM "DIFERENTES", ACHANDO COM A SUA PREPOTÊNCIA QUE PODEM JULGAR.É CLARO QUE OS CUIDADOS SÃO NECESSÁRIOS, E TODO CUIDADO É POUCO, MAS HÁ EXAMES PARA SEREM FEITOS, E NUNCA PODEMOS DESPREZAR A BOA VONTADE DE UMA PESSOA. SÓ UM DOENTE EM UM LEITE DE DOR SABE O QUE É AGUARDAR UMA AJUDA, QUE PODE CHEGAR OU NÃO.
Absolutamente revoltada e incrédula, fiquei sem palavras!!!!
Obrigada pela denúncia...obrigada por desmascarar esta gente hipócrita...
Odele um beijo muito grande por me fazeres chegar este post.
Jinhos mil de carinho
Durante anos eu e meu marido fomos dadores de sangue no Hospital Nossa Senhora do Rosário no Barreiro. Por motivos de saúde, desde 93 que deixámos de poder doar sangue. Actualmente é meu filho que continua doando neste mesmo hospital.
A discriminação em relação aos homossexuais, é ridicula e inumana. Mas existe. Todos sabemos disso. E o que realmente é estranho é que muitas vezes são pessoas na faixa etária dos 50/60, a pugnar contra os preconceitos dos mais novos. É uma coisa que não entendo e me faz muita confusão. Deveria ser o contrario.
Tem razão o ManDragyThén, na sua revolta pelo ultrage, uma vez que ele estava dando aquilo que um ser humano tem de mais precioso, o seu sangue, que poderia salvar uma vida.
O tipo de sangue dele é realmente raríssimo, era o tipo de sangue da minha sogra, que precisou uma vez de transfusão e foi muito dificil encontrar.
Um abraço e bom Domingo
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