quinta-feira, novembro 29, 2007

COISAS ANTIGAS, MAS NUNCA ESQUECIDAS.

O texto abaixo, acreditem, foi escrito por mim há quase 30 anos.

Minha filha Flavia, quando estava entre oito e nove anos de idade, sempre me pedia para levar este texto e ler na escola durante as apresentações de leitura na classe. E lá, fazia questão de dizer, que o texto havia sido escrito pela mãe dela. Flavia, que era uma criança alegre e estava sempre de bom humor, ria de se dobrar ao ler o que aqui escrevi sobre o que me aconteceu naquele dia de minha vida. Esta vida que nem sempre segue o rumo que imaginamos. De repente a vida pode mudar, e nos levar para um caminho onde tudo à nossa frente é desconhecido. Mas é preciso abrir trilhas, com a mão ou com o facão. E seguir caminhando.

Este texto, simples e despretensioso divertia Flavia. E eu até gostava que ela o lesse, pela mensagem positiva no final que eu queria que ela assimilasse.

"VARIAÇÕES DE TEMPO.
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O céu estava limpo hoje pela manhã. Nenhuma nuvem, nenhum sinal de chuva.

Ao sair para o trabalho, apesar do atraso e da pressa, não esqueci minha roupa de tênis para o jogo à noite. Já no escritório, olhei mais uma vez para o céu. Continuava limpo. Não tive dúvidas, mandei lavar o carro. Lavagem completa. Lubrificação com óleo limpo, troca do óleo do motor, verificação da água da bateria e outros pormenores.

Ao meio dia, hora de meu almoço, quando fui retirar o carro no posto, dava gosto ver. Limpinho. Lindo! No fim do dia e de meu expediente de trabalho, quando saio para ir ao clube jogar meu tênis, surpresa!. Está chovendo! E o meu carro limpo? E o dinheiro gasto na lavagem? CR$ 160,00 – uma fortuna para quem como eu vive numa dureza Franciscana.

Por teimosia pura ainda vou até o clube. Tem jogo de futebol. No portão. Um aglomerado de pessoas, gente da televisão, um rebú danado. Estaciono o carro na avenida movimentadíssima e debaixo de chuva, corro até o barzinho do depto. de tênis. Estão lá meus amigos. Um tocando piano, outros dois namorando. Eu, como não toco piano nem tenho namorado, resolvo não ficar.

A chuva continua, agora mais forte, mas então, eu já não corro, ando nela e gosto. Ao chegar ao carro, já tenho a roupa úmida, o cabelo crespo e arrepiado. Desalinhado. A dificuldade agora é sair do lugar. Ao meu lado uma fila interminável de carros, me faz ver a aventura que será me colocar entre eles e aumentar a fila. Dou seta, boto a cabeça pra fora, o braço, agito a mão. Um escândalo. Ufa! Consegui! Agora, é tocar pra casa.

E aqui estou em minha casa, o meu canto de paz. Tenho o cabelo molhado e peguei um resfriado. Mas é só. Não estou sequer de mau humor. Não me zanguei nem mesmo quando à caminho de casa, ao meu lado, um motorista mais “descontraído” e aparentemente empolgado com a chuva, deu uma assustadora cuspida para o ar, e ai! em minha direção. Por sorte, caiu no chão. Nenhum problema, a chuva lavou.

O céu está escuro agora à noite, nenhuma estrela, nenhum sinal de que amanhã haverá sol. Não tem importância não. O vento que agora bate na minha janela, a chuva, a escuridão, não me afetam, pelo menos não negativamente. Não acho que exista “mau tempo” Não aceito também que as suas variações justifiquem a mudança de nossos hábitos ou de nosso humor, o que seria pior, mesmo porque, chatear-se com o “mau tempo” é um gratuito desgastar-se. Aprendi que apreciar a chuva, é só uma questão de predisposição. Afinal, tanto quanto o sol, a chuva é necessária, e tem lá também sua beleza e seu encanto.

Vou...atchim!....dormir.

Boa noite.
Odele Souza. 23.08.1978. "

6 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Gostei do texto. Flavia tinha razão. É um texto leve, e engraçado.
Beijinhos para as duas.

Menina do Rio disse...

É certo que a vida as vezes nos desvia um pouco do curso, mas como dissestes, devemos abrir trilhas e estou certa que soubestes abrir bem essas trilhas!
Um belo conto sobre teu quotidiano!
Um beijo pra vc e tua familia e bom final de semana!

Lusófona disse...

Ai Querida Odele, quem me dera ter tal bom humor em dias cinzentos de chuvas.... Tenho uma grande tendência a ser melancólica no inverno, porém, já mudei muito, hoje em dia já consigo não ir abaixo por causa disso, que é mesmo um gratuito desgaste, como você mesma diz. Eu adoro o sol, o calor, mas há pequenas doces tentações que só o inverno nos pode oferecer... aos poucos estou a aprender =)

Lindo texto! Super positivo

Beijokas e feliz fim de semana

Marlene Mora disse...

Oi Odele,
Muito lindo e gostoso seu texto e
aos vinte anos tudo é lindo, mas eu nao sei se hoje (aos 58 anos) gostaria de andar na chuva...kkkkk.
Mas como vc disse vamos continuar a abrir trilhas com facão e vamos que vamos.
Bom domingo.
Bjussssssss querida.

Stella Petra disse...

Querida Odele!
ADOREI seu texto...Me vi nele...rs
Sua menina tinha e tem razão...vale a pena! Sabe o que mais acho engraçado? Porque as pessoas correm da chuva? Não existe nada mais delicioso que poder sentir a chuva correr em seu corpo...ainda mais quando junto uma gripe vem acompanhar, pois limpa nosso corpo por dentro e por fora...Peço querida, que dê um beijo em Flávia por mim e diga a ela, que mandei tá!
Fica com meus guardiões A PROTEGER E ILUMINAR SEUS CAMINHOS!
PARABÉNS PELA MÃE E SER HUMANO MARAVILHOSO QUE ÉS.
Carinhosamente
Stellinha :)

Lusófona disse...

Odele, eu sei que pode não ter nada a ver, mas quando eu li o teu texto LAVANDO A ALMA, eu achava que já o tinha lido, ou que havia lido um parecido... Será que confundi com esse texto , aqui?! Afee.. não liga não, querida, eu ando com a cabeça zonza... Mas, tinha que vir aqui pra tirar a dúvida, acho que fiz confusão :(

Beijos