Protegido pelo personagem que representa com maestria, ele surge no palco, magnetizando e arrancando aplausos da platéia. Ali, sob a luz dos holofotes, e com o glamour que o papel lhe confere, parece um homem lindo, mas se essa luz penetrasse em seu interior e lhe revolvesse as entranhas, mostraria a todos uma pessoa sem brilho. O seu papel é o de um homem requintado e o figurino que ostenta, deixa clara sua posição na vida. Um homem rico. No entanto, ele é muito pobre, tão pobre, que a única coisa de que dispõe é dinheiro, que está sempre disposto a também ostentar, desde que isto lhe traga mais aplausos.
Impregnado de seu personagem, o Ator segue pelos palcos da vida, sempre representando o mesmo papel que por mostrá-lo infinitas vezes com performance irretocável, a cada apresentação ele atrai mais atenções. Escondido sob o personagem ele se mostra forte e corajoso, e não deixa que se note, sob hipótese nenhuma, sua imensa fraqueza e covardia. Ele compõe o personagem com perfeição. Ele ama seu personagem, ele o veste e dele se reveste. Ele o incorpora, e com ele se funde e se confunde. Já não consegue abandoná-lo para voltar a tomar posse de si mesmo, já não consegue se desvencilhar dele para dar um beijo que não esteja no roteiro, ou um abraço que não tenha sido exaustivamente ensaiado. Mas o Ator, compenetrado e competente, segue representando o seu papel, e assim será, até que se fechem as cortinas, se apaguem as luzes e cessem os aplausos.
14 comentários:
Ola Odele
Fiquei muito bem impressionado com o seu blogue, particularmente com este texto "O personagem", cujo conceito eu perfilho.
Odele
Texto simples, mas muito bem escrito. Faz-nos pensar.
Bjo
Quem é este actor, ou personagem
um actor deve encarnar bem a personagem da peça, nunca apersonagem deve integrar o actor, penso eu
saudações com um beijo
Ess é o drama de muito actores que eixam contaminar a sua vida real pelas personages que interpretam.
Não conseguem giradar o distanciamentto que, Brecht, por exemplo recomenda.
Mas o texto está muito bem ecrito.
NOTA: Eu digo "as personagens" por que, do lado de cá "personagem" é
feminino) embora actualmente já há muito quem diga "o personagem"
Obrigado pelas vistas ao meu blogue
Um abraço carinhoso.
Ou quem sabe? Correm-se as cortinas, apagam-se as luzes, cessam os aplausos e a personagem não pára de representar. Acontece apenas que veste a roupagem de outra... quem sabe?
Obrigada pela visita e pelo simpático comentário. Apareça sempre que quiser. Será bem-vinda!
Beijos.
Cada um desempenha da forma que sabe e que lhe permitem, o seu papel no palco da vida.
Um beijinho
Olá, passei por aqui e adorei o seu texto.
Lindíssimo parabéns.
Boa semana.
Beijinhos
Isabel
Olá querida Odele.
Excelente este teu texto.
Creio que o actor experiente não deixa que as personagens tomem conta dele como acontece com alguma frequência com os actores menos experientes principalmente quando representam papéis nos quais encarnam a pessoa que realmente gostavam de ser e não são.
Os mais experientes, e conheço muitos sabem distinguir a pessoa dos personagens até porque frequentemente representam mais do que um e muitas vezes personagens com características totalmente distintas.
Por vezes é mais difícil ao público distinguir o actor das suas personagens e é o próprio público que tenta forçar o actor a agir de acordo com o que representa e aí mistura-se a realidade e a ficção.
Quando o palco acompanha o actor o actor na vida a vida também vai com o actor para o palco mas como pouco vive porque a vida já não é sua, torna-se mau no palco e na vida.
Cessarão os aplausos, apagar-se-ão as luzes e nada restará a quem faz da vida um espectáculo e do espectáculo a vida.
Um grande beijo para ti e outro para a Flávia.
Diz-lhe ao ouvido que a vida está a chamar por ela.
Isabel
Vem , vem voar nas " Asas De Fogo " ...
Um delicado beijo .
saudações amigas, a familia não escolhemos , os amigos sim , e a amizade constroi-se
Saudações amigas
ODELE:
Eheheh! Parece o retrato do político bem-sucedido!
Um abraço para ambas.
Odele,
Venho agradecer a visita que me fez e também as palavras bonitas que deixou. Ao mesmo tempo venho conhecer a "sua casa", muito acolhedora, e lhe prometo que voltarei.
Um abraço
A garotinha tinha sete/oito anos... o malmequer "roubado" do jardim atrás do banco; este já não existe.
Beijos.
Agrade�o a tua visita ao meu blogue. Por falta de tempo, neste momento, n�o leio o post mas voltarei ainda hoje.
Beijinhos. Bom domingo!
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