Passava da meia noite quando, como de costume, o trem parou na estação daquela cidadezinha do interior, onde a adolescente morava. Tinha sido assim nos últimos tempos, desde que a mãe, com sérios problemas financeiros, se mudara para aquele fim de mundo e ela, após mais um dia de trabalho e das aulas do curso de secretariado, que freqüentava das sete às onze da noite, retornava para casa. Naquela noite não foi diferente. Na minúscula estação de trem, também como de costume, desceram poucas pessoas, não mais que cinco ou seis, e rapidamente sumiram na noite escura feito breu. E como de costume ela sentiu medo.
Como sempre fazia, ela olhou em volta para ver se o irmão, caso não tivesse outra vez adormecido pesado, estaria ali à sua espera, para acompanhá-la até em casa. Naquela noite, a exemplo de muitas outras, o irmão não estava lhe esperando. Mas ela entendia, afinal, não devia mesmo ser fácil sair debaixo das cobertas quentinhas, e se aventurar na noite escura e fria, para esperar alguém numa estação de trem, deserta e tão ou mais fria que a própria noite. Claro que ela entendia. Mas sentia medo.
Naquela noite, mais do que em todas as outras ela precisava de companhia e proteção para vencer a distância, que não era pequena, entre a estação de trem e sua casa. E por que naquela noite mais do que nas outras? Por que naquela noite mais do que nas outras, ela sentia medo de caminhar sozinha na noite escura? Pensou que talvez fosse porque somos assim: Há dias em que nos sentimos mais fracos, mais frágeis, mais vulneráveis, mais carentes, mais necessitados de colo. Enquanto esses pensamentos lhe ocupavam a mente, ela já se botou a caminhar, enfrentando o medo que deixava seu coração aos pulos e quase lhe paralisava as pernas. Caminhava rápido, quase corria, e já havia percorrido boa parte do caminho, quando teve a impressão de que ouvia passos atrás de si. Não enxergava coisa alguma, tamanha era a escuridão das ruas sem asfalto e sem iluminação. Não podia parar para se certificar de nada, pois temia ser atacada por quem estivesse lhe seguindo a passos curtos. Meus Deus, que medo.
Quem quer que fosse que estivesse lhe seguindo, parecia gostar de mantê-la assustada, pois se quisesse já a teria alcançado. Quem quer que fosse, estava tão próximo dela, que já era possível lhe ouvir a respiração ofegante. Seria impressão dela ou a criatura parecia respirar ruidosamente de propósito, para não lhe deixar dúvida de sua proximidade e intenção de perseguí-la...? De repente, quem quer que fosse, correndo, lhe passa ao lado e depois de lhe ouvir ainda os passos e a respiração ofegante por alguns minutos, tudo silencia. Cadê a criatura...? Medo, muito medo.
Ela continuava a correr e já avistava sua casa, a única da rua com a luz acesa, quando ouviu um som indecifrável que parecia vir de uma das casas pelas quais ela acabara de passar correndo. Alguém gemia? Ou será que ria..? Não importava, precisava chegar em casa, haveria de chegar, estava perto, mais um pouquinho e chegaria. Já avistava o portão de sua casa e já se preparava para abri-lo, quando uma voz em tom sinistro, lhe disse: - Espere por mim! De novo, o medo quase a paralisou. Mesmo assim, abriu o portão e entrou. Quando se preparava para fechá-lo, um fósforo aceso por seu perseguidor, ali, rente, colado a ela, lhe permitiu ver seu rosto. Era o irmão, que numa estúpida brincadeira de mau gosto lhe assustara da estação de trem até em casa. Ela esperou que ele se refizesse do acesso de riso que lhe acometeu e brigaram feio. Ela só não rompeu relações com ele porque precisava que nos dias seguintes, o irmão estivesse lá, na estação de trem a lhe esperar.
O sono lhe demorou a chegar naquele resto de noite, mas em nenhum momento ela pensou em desistir do trabalho e dos estudos. Em nenhum momento ela pensou em desistir de seus sonhos por medo. Acabou adormecendo pensando numa frase que havia lido e que já não se lembrava onde nem quando, mas que dizia: “Coragem não é a ausência de medo, é você agir, apesar do medo”. E dessa frase ela fez seu lema de vida. Depois dessa noite e dessa experiência de puro e intenso medo, ela passou a considerar-se mais corajosa, mesmo quando a vida lhe colocava diante de situações em que sentia medo. E desde então, antes de ficar paralisada, antes de ficar sem ação, ela relembra e repete para si mesma a frase: “Coragem, não é a ausência de medo, é você agir, apesar do medo”. E ela vai aonde tiver que ir, e faz o que tiver que fazer. Vencendo o medo.
Como sempre fazia, ela olhou em volta para ver se o irmão, caso não tivesse outra vez adormecido pesado, estaria ali à sua espera, para acompanhá-la até em casa. Naquela noite, a exemplo de muitas outras, o irmão não estava lhe esperando. Mas ela entendia, afinal, não devia mesmo ser fácil sair debaixo das cobertas quentinhas, e se aventurar na noite escura e fria, para esperar alguém numa estação de trem, deserta e tão ou mais fria que a própria noite. Claro que ela entendia. Mas sentia medo.
Naquela noite, mais do que em todas as outras ela precisava de companhia e proteção para vencer a distância, que não era pequena, entre a estação de trem e sua casa. E por que naquela noite mais do que nas outras? Por que naquela noite mais do que nas outras, ela sentia medo de caminhar sozinha na noite escura? Pensou que talvez fosse porque somos assim: Há dias em que nos sentimos mais fracos, mais frágeis, mais vulneráveis, mais carentes, mais necessitados de colo. Enquanto esses pensamentos lhe ocupavam a mente, ela já se botou a caminhar, enfrentando o medo que deixava seu coração aos pulos e quase lhe paralisava as pernas. Caminhava rápido, quase corria, e já havia percorrido boa parte do caminho, quando teve a impressão de que ouvia passos atrás de si. Não enxergava coisa alguma, tamanha era a escuridão das ruas sem asfalto e sem iluminação. Não podia parar para se certificar de nada, pois temia ser atacada por quem estivesse lhe seguindo a passos curtos. Meus Deus, que medo.
Quem quer que fosse que estivesse lhe seguindo, parecia gostar de mantê-la assustada, pois se quisesse já a teria alcançado. Quem quer que fosse, estava tão próximo dela, que já era possível lhe ouvir a respiração ofegante. Seria impressão dela ou a criatura parecia respirar ruidosamente de propósito, para não lhe deixar dúvida de sua proximidade e intenção de perseguí-la...? De repente, quem quer que fosse, correndo, lhe passa ao lado e depois de lhe ouvir ainda os passos e a respiração ofegante por alguns minutos, tudo silencia. Cadê a criatura...? Medo, muito medo.
Ela continuava a correr e já avistava sua casa, a única da rua com a luz acesa, quando ouviu um som indecifrável que parecia vir de uma das casas pelas quais ela acabara de passar correndo. Alguém gemia? Ou será que ria..? Não importava, precisava chegar em casa, haveria de chegar, estava perto, mais um pouquinho e chegaria. Já avistava o portão de sua casa e já se preparava para abri-lo, quando uma voz em tom sinistro, lhe disse: - Espere por mim! De novo, o medo quase a paralisou. Mesmo assim, abriu o portão e entrou. Quando se preparava para fechá-lo, um fósforo aceso por seu perseguidor, ali, rente, colado a ela, lhe permitiu ver seu rosto. Era o irmão, que numa estúpida brincadeira de mau gosto lhe assustara da estação de trem até em casa. Ela esperou que ele se refizesse do acesso de riso que lhe acometeu e brigaram feio. Ela só não rompeu relações com ele porque precisava que nos dias seguintes, o irmão estivesse lá, na estação de trem a lhe esperar.
O sono lhe demorou a chegar naquele resto de noite, mas em nenhum momento ela pensou em desistir do trabalho e dos estudos. Em nenhum momento ela pensou em desistir de seus sonhos por medo. Acabou adormecendo pensando numa frase que havia lido e que já não se lembrava onde nem quando, mas que dizia: “Coragem não é a ausência de medo, é você agir, apesar do medo”. E dessa frase ela fez seu lema de vida. Depois dessa noite e dessa experiência de puro e intenso medo, ela passou a considerar-se mais corajosa, mesmo quando a vida lhe colocava diante de situações em que sentia medo. E desde então, antes de ficar paralisada, antes de ficar sem ação, ela relembra e repete para si mesma a frase: “Coragem, não é a ausência de medo, é você agir, apesar do medo”. E ela vai aonde tiver que ir, e faz o que tiver que fazer. Vencendo o medo.
12 comentários:
Belo, Odele!
Como de uma brincadeira extremamente estúpida se faz um bom texto e se dá uma lição positiva.
A brincadeira do irmão arrepiou-me, mas a utilidade que lhe deste no texto, é de mestre.
Parabéns.
Gostei muito do texto e da mensagem que ele veicula.
Coragem é isso mesmo, é vencer o medo!
Um abraço duplo.
Gostei deste conto.
Um abraço
Gostei do texto , da mensagem...o medo...que tantas vezes nos percorre , assalta...
um abraço
brisa de palavras
O medo, o pânico, nada ajudam nos momentos em que temos que tomar decisões rápidas! Nós sabemos que é assim mas impossível não ter medo de certas situações, desafio qualquer pessoa a dizer que nunca teve medo!
O medo faz parte da espécie humana e talvez seja por ele existir que a humanidade existe hoje, pois se o Homem não tivesse tomado precauções no passado certamente teria sido devorado por outros animais, muito mais possantes!
Muitos beijinhos!!!
gostei esta prosa vale apena ler e reler
saudações com um beijo
"“Coragem não é a ausência de medo, é você agir, apesar do medo”.
sem dúvida.
sinistro e muito belo o teu texto.
parabéns.
beijinhos
Vencido que foi o medo, desejo-lhe um bom fim de semana.
Claro que não , entra amigos não pode haver indelicadezas, mas sinceridade, compreendo e respeito
Saudações amigas com um beijo para a familia
Muito bonito o texto. Eu vim para agradecer a visita e conhecer um pouco do seu blog. Entrei pelo da Flávia e fiquei... nem sei explicar. Agora vim aqui e deparo com este belo texto.
Um abraço, e agora que sei o caminho, vou voltar
Á deriva por esta imensa teia aqui parei , pousei a bagagem e, admirei este novo mundo , parto feliz , porque enriqueci a minha alma ...Obrigado .
"...Guardados na gasta pauta os velhos gemidos
Um a um de tristeza no escuro se fazem ouvir ..."
Fica em paz .
Convido-te para o 1º aniversário do - EU ESTOU AKI - !
Beijinhos!!!
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