segunda-feira, junho 11, 2007

DEPRESSÃO, QUEM JÁ NÃO SENTIU?

Marina vivia um caso de amor complicado. Era apaixonada por um homem casado, desses que dizem que o casamento está péssimo, que já não sentem nada pela mulher, que até já dormem em camas separadas, mas que não se separam por causa dos filhos. Coitados. No início do romance, Marina jurou para si mesma que não faria cobranças ao amado, que viveria o dia a dia desse amor, e que jamais, em tempo algum, reinvindicaria para si o papel da esposa, porque pensando bem, dizia ela, bom mesmo era ser amante, que entre outras vantagens, tem a seu favor, um relacionamento sem rotina, esta, uma das causas do desaparecimento do namoro e da paixão em muitos casamentos.

Com o passar dos anos no entanto, Marina foi mudando de idéia. Chateava-se quando nas datas mais importantes como Natal, Ano Novo, aniversário dele, era com a esposa que ele ficava. Além disso começava a lhe incomodar também o fato de não poder fazer uma caminhada pelo Parque Ibirapuera, de mãos dadas com seu amor. E se encontrassem alguém conhecido? Melhor não arriscar dizia ele, e assim, ela que adorava passear pelo parque, se quisesse ir, teria que ser com amigos ou mesmo sozinha. Com ele não. Marina sabia, tinha certeza que o homem pelo qual estava apaixonada e com quem dividira, mesmo que parcialmente, os últimos dez anos de sua vida, nunca tomaria a decisão de sair da casa onde morava com esposa e filhos para morar com ela. Haviam sido amantes por dez anos e era assim que deveriam continuar até o fim dos tempos. Amantes.

Passei uma semana tentando falar ao telefone com Marina e como ninguém atendesse resolvi ir até o apartamento dela. Toquei a campainha várias vezes. Ninguém atendeu. Fui pedir informações ao zelador do predio e ele me disse que o carro dela estava na garagem e que não a tinha visto sair. Toquei de novo e de novo ninguém atendeu. Perguntei ao zelador se ele poderia arrombar a porta e ele, já preocupado também, fez o que lhe pedi. Com um chute forte o homem botou a porta abaixo e entramos. Fui direto ao quarto e lá estava Marina, não largada na cama como era de se esperar, mas encolhida num canto, feito bicho acuado, numa depressão que dava dó. Moça bonita que sempre foi, estava despenteada e não tomava banho há dias. Com a ajuda do zelador eu a coloquei embaixo do chuveiro e lhe dei um bom banho. Depois, lhe preparei uma refeição leve e conversamos muito. Passamos a tarde juntas. Ela estava nesse estado deplorável porque há uma semana atrás o homem casado lhe dissera, que havia se cansado da vida dupla que vinha levando nesses anos todos e decidira ficar com a esposa. Era este o motivo da forte depressão de Marina, a perda de seu grande amor.

Não sou médica, tampouco psicóloga, mas pelo que tenho observado, parece que algumas pessoas precisam de um motivo para entrarem em depressão, outras não. Muitas pessoas me perguntam se não entro em depressão por causa do estado de coma de minha fiha Flavia, e dizem que sentem vergonha por se sentirem deprimidas por motivos banais. Acho que ninguém deve se envergonhar por isso. Cada um de nós tem a sua maneira de lidar com os problemas e dificuldades da vida, e não é pelo fato de alguém ter um grande motivo pra entrar em depressão e não entra, que deve ser considerada uma pessoa mais forte que a outra que se deprimiu por um motivo simples ou até mesmo sem motivo algum. Todas as dores, não importa o motivo, devem ser respeitadas, mas se a depressão for constante, acho que procurar ajuda profissional é uma boa idéia.

4 comentários:

leituras disse...

Bem triste!
Há-de haver sempre Marina's e quem se sinta deprimido porque afinal consigo aconteceu o que sempre acontece.

Deixei-te um convite para nos falares de livros.

Beijos para ti e para a F´lávia.
Boa semana

Cusco disse...

Olá! Vim deixar dois versinhos de um grande poeta popular Portugûes!
Cada um é uma lição..

O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
- quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!

Após um dia tristonho
de mágoas e agonias
vem outro alegre e risonho:
são assim todos os dias

Um beijo
Até breve!

Anônimo disse...

Pois é Odele, depressão não é coisa de gente fraca não, é tendência do organismo. Muitas pessoas entram em depressão mesmo sem nenhuma contrariedade.

Agora encarar a vida de frente, resolver o que se pode solucionar, ou minorar sofrimentos como vc faz com a Flávia, e mesmo em meio a tudo, continuar participante da vida, isso é coisa de gente forte sim e muito forte!

Hoje vim aqui também para te convidar a uma corrente literária, e vejo "Leituras" está também te fazendo o mesmo convite, então aceite os dois, ok?

Beijocas...

Planetario Notícias disse...

Nossa que coisa...Esta descrito com palavras simples o que sinto, tenho esse tipo de doença muitas vezes do nada, da rotina ou principalmente nas mudanças de estaçoes.
Excelente post querida.
Big Kiss