
Um dia, quatro anos depois do acidente que deixou minha filha Flavia em coma, estado em que infelizmente, permanece até hoje, encontrei na rua Joana, uma conhecida que não via há tempos. Ao me ver, ela diz:
- Odele, como você está bem! – Você ainda sofre pelo acidente com Flavia?
A pergunta me pegou de surpresa e quando vi estava chorando descontroladamente. Joana se deu conta então de que tinha cometido no mínimo, uma gafe. Passado meu descontrole emocional expliquei que sim, eu ainda sofria e muito, mas que havia conseguido administrar minha dor de forma a mantê-la, na maioria das vezes, sob controle, não tendo sido este o caso, óbvio, naquele momento.
Joana me pergunta então se fiz terapia para conseguir sair do luto e se fiz, se poderia indicar o profissional para sua irmã, que estava saindo de um casamento e segundo ela, estava se sentindo um molambo. E Joana me conta:
Clara sua irmã médica, era casada com Roberto, também médico. Ambos profissionais bem sucedidos, viveram um tempo na Europa onde progrediram financeiramente. Tiveram três filhos, no momento ainda pequenos – seis, oito e doze anos. Já vivendo novamente no Brasil, há coisa de um ano, Roberto se apaixonou por outra mulher e saiu de casa, deixando Clara numa situação difícil – sozinha com as três crianças, e sem pensão alimentícia. Por isso e por todos os outros problemas decorrentes da separação, Clara foi entrando em depressão, ficando cada dia mais triste e infeliz. Foi perdendo também sua beleza, ganhou peso e hoje é uma mulher melancólica, que diz viver em luto constante pela perda do marido. Joana me disse não saber mais o que fazer para consolar a irmã e levá-la a se interessar novamente pela vida. É assim mesmo. Exorcizar a dor e conviver melhor com as perdas, leva tempo.
A perda que tive com o acidente ocorrido com minha filha me deixou sim por um bom tempo, num estado emocional deplorável. Eu não conseguia falar no assunto sem chorar, e carregava em meu rosto, uma dor ostensiva. Com o tempo me dei conta de que precisava mudar para não vir a ser uma presença pesada, quem sabe até evitada. Sim, porque depois de tantas palavras de esperança, de carinho, de tantas demonstrações de solidariedade, as pessoas passarão a não ter mais o que dizer para aliviar a dor de quem está em grande sofrimento e não é de duvidar que passem a evitá-la.
Alguém que passa por uma situação de perda, seja emprego, divórcio, morte de um ente querido ou um acidente com seqüelas graves, tem todo o direito de viver sua dor por um tempo. Quanto tempo? Depende da estrutura emocional de cada um. Há quem fique um ano, até dois em luto profundo, há quem consiga reagir em menos tempo. Li num artigo de psicologia que se uma pessoa não conseguir administrar sua dor em um período de no máximo dois anos, ela terá que procurar ajuda profissional para sair da situação.
Não contabilizei o tempo em que estive totalmente imersa em minha dor por ter perdido minha filha como era: Linda, inteligente e saudável, mas acho que consegui se não exorcizar, pelo menos domar esta dor. Hoje, eu a tenho quase que totalmente sob controle. Quase.
- Odele, como você está bem! – Você ainda sofre pelo acidente com Flavia?
A pergunta me pegou de surpresa e quando vi estava chorando descontroladamente. Joana se deu conta então de que tinha cometido no mínimo, uma gafe. Passado meu descontrole emocional expliquei que sim, eu ainda sofria e muito, mas que havia conseguido administrar minha dor de forma a mantê-la, na maioria das vezes, sob controle, não tendo sido este o caso, óbvio, naquele momento.
Joana me pergunta então se fiz terapia para conseguir sair do luto e se fiz, se poderia indicar o profissional para sua irmã, que estava saindo de um casamento e segundo ela, estava se sentindo um molambo. E Joana me conta:
Clara sua irmã médica, era casada com Roberto, também médico. Ambos profissionais bem sucedidos, viveram um tempo na Europa onde progrediram financeiramente. Tiveram três filhos, no momento ainda pequenos – seis, oito e doze anos. Já vivendo novamente no Brasil, há coisa de um ano, Roberto se apaixonou por outra mulher e saiu de casa, deixando Clara numa situação difícil – sozinha com as três crianças, e sem pensão alimentícia. Por isso e por todos os outros problemas decorrentes da separação, Clara foi entrando em depressão, ficando cada dia mais triste e infeliz. Foi perdendo também sua beleza, ganhou peso e hoje é uma mulher melancólica, que diz viver em luto constante pela perda do marido. Joana me disse não saber mais o que fazer para consolar a irmã e levá-la a se interessar novamente pela vida. É assim mesmo. Exorcizar a dor e conviver melhor com as perdas, leva tempo.
A perda que tive com o acidente ocorrido com minha filha me deixou sim por um bom tempo, num estado emocional deplorável. Eu não conseguia falar no assunto sem chorar, e carregava em meu rosto, uma dor ostensiva. Com o tempo me dei conta de que precisava mudar para não vir a ser uma presença pesada, quem sabe até evitada. Sim, porque depois de tantas palavras de esperança, de carinho, de tantas demonstrações de solidariedade, as pessoas passarão a não ter mais o que dizer para aliviar a dor de quem está em grande sofrimento e não é de duvidar que passem a evitá-la.
Alguém que passa por uma situação de perda, seja emprego, divórcio, morte de um ente querido ou um acidente com seqüelas graves, tem todo o direito de viver sua dor por um tempo. Quanto tempo? Depende da estrutura emocional de cada um. Há quem fique um ano, até dois em luto profundo, há quem consiga reagir em menos tempo. Li num artigo de psicologia que se uma pessoa não conseguir administrar sua dor em um período de no máximo dois anos, ela terá que procurar ajuda profissional para sair da situação.
Não contabilizei o tempo em que estive totalmente imersa em minha dor por ter perdido minha filha como era: Linda, inteligente e saudável, mas acho que consegui se não exorcizar, pelo menos domar esta dor. Hoje, eu a tenho quase que totalmente sob controle. Quase.
Um comentário:
Gosto da sua forma de escrever.
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