Mais uma tragédia envolvendo crianças atrai a atenção da mídia brasileira Desta vez, é a morte ainda não esclarecida da criança Isabella Oliveira Nardoni, 5 anos, encontrada morta no jardim do prédio onde passava o dia com o pai e a madrasta. A criança teria sido arremessada da janela do apto. A morte de uma criança sempre causa comoção e quando há culpados queremos vê-los punidos o quanto antes.
Este caso aconteceu na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo e desde o acidente, ocorrido no dia 29 de Março, que a qualquer momento que se ligue a TV, abra os jornais, ou ligue o rádio estão noticiando sobre a morte de Isabella. Nada escapa aos jornalistas que fizeram plantão na rua onde mora a mãe da criança. No que se lê nos jornais vê-se de tudo, inclusive notas sobre a vida pessoal dos envolvidos, que em nada agrega ao esclarecimento do caso, mas sim mostra uma curiosidade mórbida por parte da imprensa. Lamentável.
Mais uma vez a mídia, noticia à exaustão, situações trágicas que envolvem acidentes, mortes e grande sofrimento, mas a mídia brasileira tem estado presente, apenas no momento em que as tragédias ocorrem. Tem sido assim infelizmente. E foi assim também com o acidente acontecido com Flavia, em Janeiro de 1998, quando ela entrou em coma, porque, como a maioria de nossos leitores sabe, ela teve seus cabelos sugados pelo ralo da piscina do prédio onde morávamos em Moema – S.Paulo.
Quando aconteceu o acidente com Flavia, o movimento causado na rua, a sirene do corpo de bombeiros que fez o resgate dela até o hospital, chamou atenção da imprensa que como no caso de Isabella, também fez plantão na porta do prédio onde morávamos. Naquela ocasião, em estado de choque, mesmo sem entender o porquê, eu seguia as instruções do síndico do prédio de não dar entrevistas. Só dois ou três meses depois é que fui entender porque. O síndico temia que se descobrissem as irregularidades, que mais tarde a perícia técnica descobriria existir na piscina onde Flavia teve os cabelos sugados pelo ralo.
Mesmo seguindo a orientação do síndico de não dar entrevistas, nos dias que se seguiram ao acidente com Flavia, a imprensa não deu trégua. Helicópteros sobrevoavam o prédio para fotografar a piscina, e alguns jornalistas chegaram ao ponto de convencerem os vizinhos a deixarem que eles fotografassem, de suas varandas, a piscina do prédio onde morávamos e onde aconteceu o acidente com Flavia. E por não terem conversado comigo, algumas reportagens saíram com informações equivocadas.
Mas isto foi há 10 anos. Isto foi só no início. Passado algum tempo, nenhuma mídia mais falou do acidente ocorrido com Flavia, nem mostraram interesse em noticiar sobre a dolorosa rotina que passou a ser a vida de minha filha. Partiram em busca de novas tragédias que mais recentes, causassem mais comoção e, por conseguinte, lhes dessem mais audiência e vendessem mais jornais e revistas.
É lamentável que a mídia se comporte dessa maneira. É lamentável que a mídia não se dê conta, da importância que tem, e mais poderia ter na vida de todos nós, se divulgasse o momento, o durante, e o depois de cada tragédia. É triste que a mídia não se aperceba de seu papel social e que se preocupe apenas com a notícia sobre algo, que por estar acontecendo naquele momento, atrai a atenção de todos. A mídia teria que chamar de volta a atenção de todos, para acidentes e tragédias acontecidas não importa quando, desde que os envolvidos não tenham recebido o tratamento justo e adequado por parte de quem quer que seja que tenha essa obrigação, para minimizar o sofrimento causado pelo acontecido. Se assim agisse, a mídia estaria cumprindo um importante papel social na vida de todos nós.
13 comentários:
Por acsao tenho visto o caso pela internet, e fico a pensar :
Meu Deus, onde vamos parar ???
Boa semana
Como eu te entendo ODELE!!!!!Nas tuas entrelinhas li o teu grito!
Só te pposso deixar um beijo no teu coração, e como sempre na brisa de vento que Flávia sentirá um beijo de ternura infinita.
Numa sociedade em que tudo é descartável, também, em vez de uma mídia responsável, temos uma mídia descartável. A notícia só o é, enquanto for chocante, espectacular. Depois, deixa de fazer audiência, e joga-se fora.
Nem imaginas a raiva que a evocação do comportamento desse tipo de jornalismo que é quase obsceno, a propósito do acidente com Flavia, me provocou.Sobretudo por ter sido oportunista, para agora ser indiferente.
Um nojo!
Querida Odete...
Como dói cada vez que surge a notícia de uma tão tenra vida ceifada ou seriamente comprometida... A angústia fica nos que recebem a notícia até que a memória os assista ou até que seua próprios afazeres os façam esquecer... ao contrário das famílias cujas vidas ficam desmembradas... feridas... até sempre!
O que vende é esse acesso de solidariedade ocasional e quase automática que se gera nas populações. E é isso que move a imprensa... É pena, mas é assim... O papel social que podia desempenhar não rende dinheiro... por isso é raro...
Beijo grande para ti, amiga...
A imprensa(os mídia) vivem do sangue alheio como as sanguessugas.
Enquanto há sangue fresco visível, há uma câmara captando imagens para alimentar a estupidificação de massas, que as TVs construíram.
A morte e o sangue, sempre atraiu os abutres, (urubus).
É a crueldade desta Sociedade do Espectáculo, que vende emoções a prazo em imagens ou embrulhadas em papel.
Um abraço duplo.
Jorge P.G.
A violência contra as crianças, na forma de torturas e assassinatos, acontece todos os dias, todo o tempo. Me entristeço ao ver as pessoas saindo com cartazes nas ruas, pedindo justiça pro caso Isabella. Pois sei que é tudo fogo de palha. Eu já vi esse filme. Abraço.
Odele
Os media estão ao serviço do poder económico e político.
A parte social é sempre descurada. Mas nós podemos fazê-los acordar. É preciso que nos juntemos e actuemos de forma visível e que desperte as atenções.
Beijo para ti e outro para Flávia
Odele
Infelizmente eles continuam dando cobertura enquanto estão vendendo jornais e revistas com o caso. O povo esquece logo. Mas não desiste, Odele! Tu tens força e os blogueiros a teu favor.
Bjim pra ti e pra Flávia.
....
Infelizmente o que mais abunda, mundo fora, são pasquins televisivos, escritos e falados.
Jornalismo, verdadeiro jornalismo, há muito pouco.
Beijo para a Flávia.
Um abraço para ti.
Querida Odele, antes de mais nada, obrigado pelas suas palavras lá no meu canto.
Sabe, a respeito do que ocorreu com a menina, a midia tem feito muito sensacionalismo no caso e nada de concreto vai acontecer. Existem coisas que merecm atenção mais que redobrada e ninguém fala nada, é o caso da nossa princesa Flávia...
Oras, vamos parar de ser meros coajduvantes de notícias e resolver tudo aquilo que tem que ser resolvido...
Tenha um final de semana repleto de alegrias e, de um mega beijo na Flávinha em meu nome
Passei para desejar um bom domingo...
Um beijo...
É... o inferno é aqui!
Notícia boa é notícia fresca, porque vende que é uma beleza... Assim foi com Flávia, João Hélio, e assim será com Isabela. Mas agora eu pergunto, e aquelas crianças, sempre pretas e sempre pobres, que morrem todos os dias por surras, balas perdidas, falta de atendimento em hospitais... Essas não ganham nem notinha no jornal. Lamentável esse mundo de cifrões!
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